Não há nada tão doce como um quarto
para dois (quando já não nos amamos tanto)
fora da cidade, em um hotel tranquilo,
e casais duvidosos e alguma criança com caxumba,
não fosse esta ligeira sensação
de irrealidade. Algo como o verão
na casa de meus pais, há tempos,
como viajar de trem à noite. Chamo-te
para dizer que não digo nada
que tu já não saibas, ou se precisar
para beijar-te vagamente
os mesmos lábios.
Deixaste a varanda.
O quarto escureceu
enquanto nos olhamos ternamente, incomodados
de não sentir o peso dos anos.
Tudo continua igual, parece
que não foi ontem. E este gosto nostálgico
que os silêncios colocam na boca
possivelmente levam a nos equivocarmos
sobre nossos sentimentos. Mas não
sem alguma reserva, porque por baixo
algo puxa com mais força e é (para dize-lo
talvez de um modo menos inexato)
difícil lembrar que nos amamos,
senão com alguma imprecisão, e o sábado,
que é hoje, está tão perto
de ontem no último minuto e de depois de
amanhã
de manhã.
Trad.: Nelson Santander
Vals de Aniversario
Nada hay tan dulce como una habitación
para dos (cuando ya no nos queremos demasiado)
fuera de la ciudad, en un hotel tranquilo,
y parejas dudosas y algún niño con ganglios,
si no es esta ligera sensación
de irrealidad. Algo como el verano
en casa de mis padres, hace tiempo,
como viajes en tren por la noche. Te llamo
para decir que no te digo nada
que tú ya no conozcas, o si acaso
para besarte vagamente
los mismos labios.
Has dejado el balcón.
Ha oscurecido el cuarto
mientras que nos miramos tiernamente,
incómodos de no sentir el peso de tres años.
Todo es igual, parece
que no fue ayer. Y este sabor nostálgico,
que los silencios ponen en la boca,
posiblemente induce a equivocarnos
en nuestros sentimientos. Pero no
sin alguna reserva, porque por debajo
algo tira más fuerte y es (para decirlo
quizá de un modo menos inexacto)
difícil recordar que nos queremos,
si no es con cierta imprecisión, y el sábado,
que es hoy, queda tan cerca
de ayer a última hora y de pasado
mañana
por la mañana