Josep M. Rodríguez – Equação

De pé neste penhasco,
aceito a mentira da paisagem.

Tudo é inacessível:
o orvalho
     – que é suor vegetal –
e o comboio que passa.

Uma cegonha voa a preto e branco.

Tem o seu ninho no cimo da igreja
que fica junto ao cemitério.
Estranho paradoxo,

a pedra testemunha a fugacidade,
a carne é apenas um leito para o tempo.

(Cada osso que tenho é uma lápide
pelos mortos que escondo no meu íntimo.)

Para quê contar o tempo que nos resta?

Viver é abraçar escuridões:
do que não sabemos ao que não sabemos,
de uma distância a outra distância.
Tudo é inacessível.

Quem vê um comboio passar compreende o resto.

Trad.: Manuel de Freitas

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s