Louise Glück – Setembro crepuscular

Eu os reuni,
eu posso dispensa-los —

Estou farto de vocês, caos
do mundo dos vivos —
Eu só posso me estender
por um tempo a uma coisa viva.

Convoquei-os para a existência
abrindo minha boca, levantando
meu dedo mindinho,

áster azul
cintilante, flor
de lírio, imenso,
com veios dourados —

Vocês vêm e vão; eventualmente
esqueço seus nomes.
Vocês vêm e vão, e cada um de vocês
falhou de alguma forma,
comprometeu-se de alguma forma: vocês valem
uma vida, não mais do que isso.

Eu os reuni;
eu posso apaga-los
como se fossem um rascunho a ser jogado fora,
um pequeno exercício

porque eu terminei vocês, visão
do luto mais profundo.

Trad.: Nelson Santander

September twilight

I gathered you together,
I can dispense with you —

I’m tired of you, chaos
of the living world —
I can only extend myself
for so long to a living thing.

I summoned you into existence
by opening my mouth, by lifting
my little finger, shimmering

blues of the wild
aster, blossom
of the lily, immense,
gold-veined —

you come and go; eventually
I forget your names.
You come and go, every one of you
flawed in some way,
in some way compromised: you are worth
one life, no more than that.

I gathered you together;
I can erase you
as though you were a draft to be thrown away,
an exercise

because I’ve finished you, vision
of deepest mourning.