Louise Glück – Vésperas (5)

Assim como você apareceu para Moisés, porque
eu preciso de você, você aparece para mim,
raramente, porém. Eu vivo essencialmente
nas trevas. Você talvez esteja me treinando para ser
mais responsivo ao menor brilho. Ou, como os poetas,
será você estimulado pelo desespero, o sofrimento
o leva a revelar sua natureza? Esta tarde,
no mundo material para o qual você normalmente
contribui com seu silêncio, subi
a pequena colina acima dos mirtilos selvagens, metafisicamente
descendo, como em todas as minhas caminhadas: terei ido fundo o suficiente
para que você tenha piedade de mim, do mesmo jeito como você às vezes se apieda
de outros que sofrem, favorecendo aqueles
com dons teológicos? Como você previu,
não olhei para cima. Então você veio até mim:
aos meus pés, não as céreas
folhas do mirtilo selvagem, mas o seu eu flamejante, uma pastagem
inteira em chamas, e além, o sol, nem se pondo, nem nascendo –
Eu não era uma criança; eu podia tirar proveito das ilusões.

Trad.: Nelson Santander

Vespers

Even as you appeared to Moses, because
I need you, you appear to me, not
often, however. I live essentially
in darkness. You are perhaps training me to be
responsive to the slightest brightening. Or, like the poets,
are you stimulated by despair, does grief
move you to reveal your nature? This afternoon,
in the physical world to which you commonly
contribute your silence, I climbed
the small hill above the wild blueberries, metaphysically
descending, as on all my walks: did I go deep enough
for you to pity me, as you have sometimes pitied
others who suffer, favoring those
with theological gifts? As you anticipated,
I did not look up. So you came down to me:
at my feet, not the wax
leaves of the wild blueberry but your fiery self, a whole
pasture of fire, and beyond, the red sun neither falling nor rising—
I was not a child; I could take advantage of illusions.