Charles Simic – Na Biblioteca

Para Octavio

Há um livro chamado
“Um Dicionário dos Anjos”.
Ninguém o abre há cinquenta anos,
Eu sei, porque quando o fiz
As capas rangeram, as páginas
desmancham-se. Nele descobri
Que os anjos eram tão abundantes
Quanto moscas. Ao entardecer, o céu
Costumava ficar repleto deles.
Você precisava agitar os dois braços
Apenas para mante-los à distância.
Agora o sol brilha
Através de altas janelas.
A biblioteca é um lugar tranquilo.
Anjos e deuses amontoados
em sombrios tomos fechados.
O grande segredo está
Em alguma estante pela qual
Miss Jones passa em sua ronda diária.
Ela é muito alta, então mantém
A cabeça inclinada como se estivesse escutando.
Os livros estão sussurrando.
Eu não ouço nada, mas ela sim.

Trad.: Nelson Santander

Republicação com alterações na tradução: poema publicado no blog originalmente em 14/05/2018

Charles Simic – In Library

There’s a book called
“A Dictionary of Angels.”
No one has opened it in fifty years,
I know, because when I did,
The covers creaked, the pages
Crumbled. There I discovered
The angels were once as plentiful
As species of flies. The sky at dusk
Used to be thick with them.
You had to wave both arms
Just to keep them away.
Now the sun is shining
Through the tall windows.
The library is a quiet place.
Angels and gods huddled
In dark unopened books.
The great secret lies
On some shelf Miss Jones
Passes every day on her rounds.
She’s very tall, so she keeps
Her head tipped as if listening.
The books are whispering.
I hear nothing, but she does.

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