O adeus de Dido1
Crônica é a chuva
em minhas vidraças, e as velas se afogam
em sua própria cera.
Abandonados pela luz,
mesmo os filamentos de estrelas
escurecem. Esta tarde,
eu escorei com hastes
suas rosas encharcadas,
elas parecem meninas
de muletas agora.
Você deixou
um mapa parcial
de sua mão direita
em cada maçaneta,
e eu sigo de sala
em sala, nômade
em minha própria casa,
o coração batendo
no peito, exigindo
ser solto.
Trad.: Nelson Santander
N. do T.
1. O título do poema provavelmente faz referência ao mito de Dido (ou Elissa ou Alyssa), a primeira rainha de Cartago, e sua grande paixão por Eneias, filho de Afrodite e um dos grandes heróis de Troia. Segundo a Eneida, de Virgilio, Dido teria se suicidado ao ser abandonada por Enéas, por quem se apaixonara quando o grande comandante e herói troiano aportou em Cartago. Em uma das passagens mais belas de Dido and Aeneas, a ópera em três atos de Henry Purcell, o episódio do suicídio de Dido é narrado na ária Dido’s Lament, que pode ser conferida nesse vídeo, na comovente interpretação da soprano Anna Dennis.
Dido’s Farewell
The rain is chronic
at my windows, and candles drown
in their own wax.
Abandoned by light,
even the filaments of stars
go black. This afternoon
I propped your drenched roses
up on sticks,
they look like young girls
on crutches now.
You left
a partial map
of your right hand
on every doorknob,
and I follow from room
to room, nomad
in my own house,
my own heart knocking
at my ribs, demanding
to be let out.