AÇUCAREIRO
De amargo
basta
o amor
Agridoce,
ela disse
Mas a mim
pareceu
amargo
CADEIRA
I
Repetes
diariamente
os gestos
do primeiro homem
que se sentou
numa tarde quente
olhando as savanas
II
Pouso
de gigantescos pássaros
cansados
FRUTEIRA
Quem se lembrou de pôr sobre a mesa
essas doces evidências
da morte?
CRISTALEIRA
Guarda
e revela
a nudez
branca
da louça
o incêndio
despareado
dos cristais
TALHERES
Colher
Se o sol nela
batesse
em cheio
por exemplo
numa mesa posta
no jardim
imediatamente se formaria
um pequeno lago
de luz
Garfo
Em três ramos
floresce
o metal
Faca
Sua fria elegância
não escamoteia
o fato:
é ela que melhor se presta
ao assassinato
CÔMODA
E dela
o que restou
senão
sobre a cômoda
um par de brincos
que talvez não sejam dela?
ESTANTE
Dentro da garrafa
o navio
acaba de partir
CORTINA
Entre o fora e o dentro
lês
o vento
REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 09/09/2017