Eu te amo como as ondas amam os penhascos.
Elas lançam saias de rendas contra os rochedos,
pernadas de dançarinas do can-can escalam até o topo,
e voltam para o mesmo lugar; espuma se agarra – um beijo.
Algumas vezes, elas levam coisas usadas para a praia;
em outras, deslizam em silêncio, sem nada dizer,
cavam, escondem-se no eco-escuro –
esperam até que haja um horizonte.
Eu te amo desta maneira porque
você é um planeta no espaço que orbita
friamente o sol, que permite oceanos.
Eu te amo desta maneira porque
você me faz um mar de tranquilidade,
ou me deixa bater e debater-me contra o cais.
Você me pega, seixo e solo,
areia que fiz pra você.
Eu te amo, não importa se eu açoite seu olho,
eroda um pedaço, eu vou compensa-lo –
espuma e sedimento, meu vestido de noiva;
sal e aerossol, meu véu, buquê de redes azuis.
Eu te amo porque sem você há apenas o mar;
um corpo todo ao mar, acenando uma rendição aos céus,
esperneando e gritando contra a linha –
água, que não irá a lugar nenhum.
Trad.: Nelson Santander
Deposition
I love you the way waves love cliffs.
They fling lace skirts against rock,
can-can dancer kicks rush the top,
fall back down; froth clings – a kiss.
Sometimes they wash worn things to shore;
others, they roll silent, say nothing,
tunnel under, hide in echo-dark –
wait until there’s a horizon.
I love you in this way because
you are a planet in space that orbits
the sun coolly, allows for oceans.
I love you in this way because
you let me moon about as a pond,
or thrash and flail over piers.
You scoop me up, stone and soil,
sand I’ve made for you.
I love you, don’t mind if I whip in your eye,
erode a piece, I’ll make up for it –
silt and foam, my wedding dress;
spray and salt, my veil, bouquet of blue nets.
I love you because without you there is just sea;
a body all at sea, waving surrender to sky,
kicking and screaming against the line –
water, not going anywhere.