As jovens deusas, noturnas
aparições (roupas escuras,
prata queimando seus umbigos)
na cadência da pista,
começam a desbotar
com a premência dos anos,
os problemas, talvez os filhos
que ainda não têm. Olham
agora para os teus olhos com claro
desprezo (já tens quarenta)
e pensas em certas palavras
de Baudelaire que lhes darias
como se fossem teus frutos
(se ao menos se aproximassem), se
soubessem quem foi o poeta.
Mas elas dançam, te rodeiam
sem importar-lhes o que calas.
Envelhecendo sós, saltam
sobre teus textos (tão perpétuos
e frágeis), novas deidades,
elas, que dançam retiradas
de teu vaso de Lladró.
Trad.: Nelson Santander
* N. do T.: o título do poema faz, evidentemente, um trocadilho com o título da obra mais aclamada de Charles Baudelaire (mencionado no poema), Les Fleurs du mal, traduzido no Brasil literalmente como “As Flores do Mal”. Em países da língua espanhola, a palavra inglesa Mall foi devidamente assimilada, o que não ocorreu no Brasil, em que Mall virou Shopping Center – ou apenas Shopping -, Centro Comercial, etc.. Tratando-se de um trocadilho, s.m.j., irrecuperável em português, optei por manter o substantivo em inglês, justamente para não perder o efeito acridoce que a sua utilização empresta ao título.
Las flores del Mall
Las jóvenes diosas, nocturnas
apariciones (ropa oscura,
plata quemando sus ombligos)
en la cadencia de la pista,
comenzarán a despintarse
con la premura de los años,
los problemas, quizá los hijos
que no tienen aún. Ahora
miran tus ojos con un claro
desprecio (ya tienes cuarenta)
y piensas en ciertas palabras
de Baudelaire que les darías
como si fueran frutas tuyas
(si al menos se acercaran), si
supieran quién es el poeta.
Pero ellas danzan, te rodean
sin importarles lo que callas.
Envejeciendo solas, brincan
sobre tus textos (tan perpetuas
y frágiles), deidades nuevas,
ellas, que bailan retiradas
de tu florero de Lladró.