Jorge Valdés Díaz-Vélez – Matzhevá

/   Em um livro do meu pai, leio
a frase: «A ti, que me lês».
É o título de uma elegia
escrita há dois séculos, ou um sopro
de solitude que se elevou
ao leitor imaginário de 
fora dos círculos do tempo.
Essa linha guarda em cada sílaba
a fresca impressão de sua veemência:
ser uma semente indócil em algum dia
limítrofe ao de agora, garrafa
de aflição lançada por alguém
como qualquer um de nós.
É, junto com a tarde, um epitáfio,
um grito que vem de muito longe,
e que hoje, 29 de fevereiro
de 2000, faz estremecer minhas mãos.
Invoco-a em voz baixa, e ela me ilumina
como uma prece no cativeiro;
pronuncio-a a quem estiver me ouvindo
virar esta página com frio.

Trad.: Nelson Santander

Matzhevá

   En un libro de mi padre, leo
la frase: «A ti, que me estás leyendo».
Es el título de una elegía
escrita hace dos siglos, o un hálito
de la soledumbre que ha subido
al lector imaginario desde
fuera de los círculos del tiempo.
Esa línea guarda en cada sílaba
la fresca impresión de su vehemencia:
ser semilla indócil algún día
limítrofe al de ahora, botella
de quebranto lanzada por alguien
igual a cualquiera de nosotros.
Es, junto a la tarde, un epitafio,
un grito que llega de muy lejos,
y hoy, a 29 de febrero
de 2000, estremece mis manos.
La invoco en voz baja, me ilumina
como una oración en cautiverio;
la digo a quien estuviera oyéndome
doblar esta página con frío.

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