Deve ser a visão mais desejada de todas
a pessoa com quem você espera viver e morrer
entrando numa sala, voltando-se para olhar para você, vis-à-vis
Deveria haver ainda algo
mais desejável: a ex-estase das galáxias,
tão afastadas de nós que não há vocabulário
mas equações matemáticas e óticas
que permitem que a visão atravesse o tempo
em liberações e lacerações de luz e poeira,
expostas como uma cavidade corporal, violeta verde lívida e venosa, lindas
— além do bem e do mal como sempre manchadas em sonho
além do remorso, da desilusão, do medo da morte
ou da vida, do ódio
de ordem, do ódio de destruição
além deste amor que agita
o ar toda vez que ela entra na sala
Estas impersonae, como as chamamos,
não irão nos invadir como nas telas do cinema
elas são tão antigas, tão novas, nós não somos para elas
nós olhamos ou não para elas de dentro da nebulosidade leitosa
de nosso oblíquo olhar
mas elas não olham para trás e não podemos feri-las
Trad.: Nelson Santander
Hubble Photographs: after Sapho
It should be the most desired sight of all
the person with whom you hope to live and die
walking into a room, turning to look at you, sight for sight
Should be yet I say there is something
more desirable: the ex-stasis of galaxies
so out from us there’s no vocabulary
but mathematics and optics
equations letting sight pierce through time
into liberations, lacerations of light and dust
exposed like a body’s cavity, violet green livid and venous, gorgeous
—beyond good and evil as ever stained into dream
beyond remorse, disillusion, fear of death
or life, rage
for order, rage for destruction
beyond this love which stirs
the air every time she walks into the room
These impersonae, however we call them
won’t invade us as on movie screens
they are so old, so new, we are not to them
we look at them or don’t from within the milky gauze
of our tilted gazing
but they don’t look back and we cannot hurt them
[…] 20. Adrienne Rich – Fotografias do Hubble: Após Sappho […]
CurtirCurtir