Qual o tempo que me resta?
Poderei medi-lo em pétalas
de alguma flor que fenece,
a última da sua espécie?
Poderei fazê-lo em décimos
de um segundo que parece
durar mais do que uma década
ou quem sabe todo um século?
O que é o tempo? Uma névoa
que na ampulheta escorrega,
ou algo que se esfarela
como a areia do deserto?
Será o tempo esse périplo
que não finda nem começa
e que flui antes de que Eva
surgisse de uma costela?
Será ele o tal mistério
de que Agostinho, nas prédicas,
foi o mais cabal intérprete
mas nunca nos disse o que era?
Qual o tempo que me resta?
O de um dia ou o que medra
entre o agora e o que me espera
no sol-posto das exéquias?