Sois o Bloco dos Suicidas.
Paradoxo pensar que todo suicí-
dio
será a morte de Deus
em nós.
Nós não. Vamos salva-l’O
da hecatombe em que, afinal,
tudo tombe.
Nós O queremos vivo e salvo
mesmo escanhoado de
qualquer ornamento, pluma ou
liturgia. Calvo.
Sem nenhum arco-íris na
cabeça
ou púrpura.
Não esquartejado numa vila rica
ou atado ao rabo de um cavalo
eletrônico,
ossos enterrados numa fossa da
Lua.
Não com o crânio partido em
dois hemis-
férios
côncavos, conchas azuis da ba-
lança.
Duas crateras na areia fofa e
balofa,
de um chão de cal e estopa;
não.
Matar Deus que está em nós sui-
cidando-nos
será irmos muito além do nos-
so alvo
já que Ele só existe em nós
por nossa culpa.
Criado pelo Homem que o nutre
a suor e sangue.
Necessidade de explicação
a quem
somos e fomos.
Seríamos uns suicidas de palha.
Palhaços.
Sem deixar sequer na cinza um
bilhete
ou na pedra, gravado, o fóssil
de quem somos e fomos
uns futuricidas,
mais do que
suicidas.