Enfim sós, vida. A festa acabou
e não resta ninguém para nos obrigar
a sorrir, ou a inventar desagradáveis
mentiras inofensivas. Todos se foram.
Despe-te sem medo. Conheço
as velhas rugas de tua triste carne.
Acariciei-as. Sei o que teu rosto
oculta por baixo da maquiagem.
Enfim sós, vida. A casa em silêncio
e tu e eu nus, calados e ausentes,
– juntos pela rotina, mais que pelo desejo –
como dois amantes cansados de se ver.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO (com alterações na tradução): poema publicado no blog originalmente em 09/03/2018
Javier Salvago – Fin de Fiesta
Al fin solos, vida. Terminó la fiesta
y no queda nadie que pueda obligarnos
a forzar sonrisas, ni a inventar molestas
mentiras piadosas. Todos se han marchado.
Vete desnudando sin miedo. Conozco
las viejas arrugas de tu triste carne.
Las he acariciado. Sé lo que tu rostro
oculta debajo de ese maquillaje.
Al fin solos, vida. La casa en silencio
y tú y yo desnudos, callados y ausentes
— juntos por rutina, más que por deseo —
como dos amantes cansados de verse.