Quem imaginaria que este seria o destino?
Vejo a chuva através de letras invertidas
Uma parede com manchas que parecem dignitários
Os tetos dos ônibus brilhantes como peixes
E essa melancolia que impregna as buzinas
Aqui não há céu,
Aqui não há horizonte.
Há uma mesa grande para todos os braços
E uma cadeira que gira quando quero fugir.
Outro dia que se vai e a isto ele estava destinado.
É raro ter tempo para sentir-se triste:
Há sempre uma encomenda, um telefonema, uma campanhia tocando
E claro, é proibido chorar sobre os livros
Porque não pega bem manchar a tinta.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado no blog originalmente em 24/01/2018
Mario Benedetti – Angelus
Quién me iba a decir que el destino era esto
Ver la lluvia a través de letras invertidas,
Un paredón con manchas que parecen prohombres,
El techo de los ómnibus brillantes como peces
Y esa melancolía que impregna las bocinas.
Aquí no hay cielo,
Aquí no hay horizonte.
Hay una mesa grande para todos los brazos
Y una silla que gira cuando quiero escaparme.
Otro día se acaba y el destino era esto.
Es raro que uno tenga tiempo de verse triste:
Siempre suena una orden, un teléfono, un timbre,
Y claro, está prohibido llorar sobre los libros
Porque no queda bien que la tinta se corra.