Linda Pastan – Os cinco estágios do luto

Na noite em que o perdi
alguém me falou sobre
os Cinco Estágios do Luto.
Tente isso, diziam,
é fácil, como aprender a subir
escadas depois da amputação.
E assim eu subi.
Negação foi o primeiro.
Sentei-me para o café da manhã,
arrumando a mesa cuidadosamente
para dois. Eu lhe passei a torrada —
você permaneceu sentado. Eu lhe passei
o jornal — você se escondeu
atrás dele.
A Raiva me parecia tão familiar.
Queimei a torrada, apanhei
o jornal e li as manchetes eu mesma.
Mas elas mencionavam sua partida,
e então eu passei para a
Barganha. O que eu poderia trocar
por você? O silêncio
depois das tempestades? Meus dedos datilografando?
Antes que eu pudesse decidir, a Depressão
veio bufando, uma parente pobre
com sua bagagem amarrada
com barbante. Na bagagem
havia bandagens para os olhos
e frascos para o sono. Deslizei
escada abaixo sem
nada sentir.
E o tempo todo
a Esperança piscava
em luminoso neon.
A Esperança era um letreiro apontando
diretamente para cima.
Esperança era o nome do meio do meu tio,
que morreu disso.
Passado um ano, ainda estou subindo, embora meus pés escorreguem
em seu rosto de pedra.
A linha de árvores
há muito desapareceu;
verde é uma cor
que esqueci.
Mas agora percebo para onde leva minha
escalada: Aceitação
escrita em letras maiúsculas,
uma manchete especial:
Aceitação,
seu nome está nas luzes.
Eu luto,
acenando e gritando.
Abaixo, minha vida inteira se propaga em ondas,
por todas as paisagens que já conheci
ou sonhei. Abaixo,
um peixe pula: a pulsação
em seu pescoço.
Aceitação. Eu finalmente
a alcanço.
Mas algo está errado.
O luto é uma escada circular.
Eu o perdi.

Trad.: Nelson Santander

The Five Stage of Grief

The night I lost you
someone pointed me towards
the Five Stages of Grief
Go that way, they said,
it’s easy, like learning to climb
stairs after the amputation.
And so I climbed.
Denial was first.
I sat down at breakfast
carefully setting the table
for two. I passed you the toast—
you sat there. I passed
you the paper—you hid
behind it.
Anger seemed so familiar.
I burned the toast, snatched
the paper and read the headlines myself.
But they mentioned your departure,
and so I moved on to
Bargaining. What could I exchange
for you? The silence
after storms? My typing fingers?
Before I could decide, Depression
came puffing up, a poor relation
its suitcase tied together
with string. In the suitcase
were bandages for the eyes
and bottles sleep. I slid
all the way down the stairs
feeling nothing.
And all the time Hope
flashed on and off
in detective neon.
Hope was a signpost pointing
straight in the air.
Hope was my uncle’s middle name,
he died of it.
After a year I am still climbing, though my feet slip
on your stone face.
The treeline
has long since disappeared;
green is a color
I have forgotten.
But now I see what I am climbing
towards: Acceptance
written in capital letters,
a special headline:
Acceptance
its name is in lights.
I struggle on,
waving and shouting.
Below, my whole life spreads its surf,
all the landscapes I’ve ever known
or dreamed of. Below
a fish jumps: the pulse
in your neck.
Acceptance. I finally
reach it.
But something is wrong.
Grief is a circular staircse.
I have lost you.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s