O tempo, que a tudo distorce,
às vezes alisa, conserta,
e a golpes cegos acerta:
em seu tosco código Morse
de instantes sem rumo e roteiro
então dá forma a algo de inteiro.
Não um verso, que em folha esquiva
a gente retoca e remenda
até ser coisa que se entenda,
mas algo que na carne viva
se esboça, se traça, se inscreve
bem mais a fundo, ainda que breve —
pois todo poema é murmúrio
frente ao amor e sua fúria.
REPUBLICAÇÃO: poema publicado no blog originalmente em 01/08/2017