David Whyte – O verdadeiro amor

Há fé em amar ferozmente
aquele que é seu por direito,
especialmente se você
esperou por anos e especialmente
se parte de você nunca acreditou
que poderia merecer esta
amada mão acenando
estendida para você desta forma.

Estou pensando na fé agora
e nos testamentos da solidão
e naquilo de que nos sentimos
dignos neste mundo.

Anos atrás, nas Hébridas,
eu me lembro de um velho
que caminhava todas as manhãs
sobre as pedras cinzentas
até a praia das focas,
e que pressionava o seu chapéu
contra o peito sob o tempestuoso
vento salgado e fazia sua oração
para o turbulento Jesus
oculto na água,

e penso na história
da tempestade e de todos
despertando e vendo
a figura distante
mas familiar
do outro lado da água
chamando por eles

e em como todos nós estamos
nos preparando para aquele
abrupto despertar,
e para aquele chamado,
e em como naquele momento
nós teremos que dizer sim,
exceto que não
virá de forma tão grandiosa
nem tão bíblica
mas mais sutil
e intimamente diante
daqueles que você sabe
que temos que amar

de modo que quando
finalmente sairmos do barco
em direção a eles, descobriremos
tudo o que nos sustenta
e tudo o que confirma
a nossa coragem, e que se você quisesse
se afogar você poderia,
mas você não quer
porque finalmente
depois de toda essa luta
e de todos esses anos
você simplesmente não
quer mais
você simplesmente se cansou
de se afogar
e quer viver e
quer amar e você
atravessará qualquer território
e qualquer escuridão
por mais líquida e perigosa
que seja para pegar a
única mão que você sabe que
pertence à sua.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: segundo este site, o poeta e filósofo David Whyte foi convidado pelas Irmãs da Misericórdia para discusar em uma conferência na cidade de Galveston, Texas. O tema da conferência era a passagem bíblica em que Jesus se dirige aos discípulos caminhando sobre as águas e os chama para sair do barco. O poema acima é o que ele escreveu em resposta. Ao ler o poema, Whyte disse: “aquele que nos chama para fora de nossos barcos pode ser uma pessoa, uma nova vida, ou mesmo alguma parte profunda de nós mesmos.”

The Truelove

There is a faith in loving fiercely
the one who is rightfully yours,
especially if you have
waited years and especially
if part of you never believed
you could deserve this
loved and beckoning hand
held out to you this way.

I am thinking of faith now
and the testaments of loneliness
and what we feel we are
worthy of in this world.

Years ago in the Hebrides,
I remember an old man
who walked every morning
on the grey stones
to the shore of baying seals,
who would press his hat
to his chest in the blustering
salt wind and say his prayer
to the turbulent Jesus
hidden in the water,

and I think of the story
of the storm and everyone
waking and seeing
the distant
yet familiar figure
far across the water
calling to them

and how we are all
preparing for that
abrupt waking,
and that calling,
and that moment
we have to say yes,
except it will
not come so grandly
so Biblically
but more subtly
and intimately in the face
of the one you know
you have to love

so that when
we finally step out of the boat
toward them, we find
everything holds
us, and everything confirms
our courage, and if you wanted
to drown you could,
but you don’t
because finally
after all this struggle
and all these years
you simply don’t want to
any more
you’ve simply had enough
of drowning
and you want to live and you
want to love and you will
walk across any territory
and any darkness
however fluid and however
dangerous to take the
one hand you know
belongs in yours.

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