Do outro lado de um lago na Suíça, cinquenta anos atrás,
a luz duelava com uma longa lança, esgrimindo com sabres
de um lado para o outro entre picos nublados e colinas.
Observávamos de um pequeno pavilhão, minha mãe e eu,
fascinadas.
E então, eis que um feixe, uma coluna,
um corpo definido, não de luz mas de chuva prateada,
se formou e partiu da costa distante, deixou para trás
as fintas e investidas silenciosas, e avançou
firmemente, a um ritmo constante,
em nossa direção.
Eu conhecia aquilo! Eu já vira aquilo! Não a sensação
de déjà vu: era a visão de Blake em aquarela,
‘O Espírito de Deus Movendo-se sobre a Face das Águas’!
A coluna avançava firmemente
através do lago em nossa direção; em ambos os lados
não havia chuva. Levantamo-nos, sem fôlego –
e então ela nos atingiu, apanhou-nos
em seu véu de prata, envolveu-nos
na melhor trama molhada
e rimos de alegria, maravilhadas.
Trad.: Nelson Santander
That day
Across a lake in Switzerland, fifty years ago,
light was jousting with long lances, fencing with broadswords
back and forth among cloudy peaks and foothills.
We watched from a small pavilion, my mother and I,
enthralled.
And then, behold, a shaft, a column,
a defined body, not of light but of silver rain,
formed and set out from the distant shore, leaving behind
the silent feints and thrusts, and advanced
unswervingly, at a steady pace,
toward us.
I knew this! I’d seen it! Not the sensation
of déjà vu: it was Blake’s inkwash vision,
‘The Spirit of God Moving Upon the Face of the Waters’!
The column steadily came on
across the lake toward us; on each side of it,
there was no rain. We rose to our feet, breathless —
and then it reached us, took us
into its veil of silver, wrapped us
in finest weave of wet,
and we laughed for joy, astonished.