Não existe sentimento de culpa quando o assunto é traição amorosa. Se vemos alguém se lamentando, arrependido da traição descoberta, isso não é remorso, mas auto-piedade pela súbita constatação de que seus atos trar-lhe-ão consequências indesejáveis. Não se espere daquele que há meia hora delirava nos braços de um amante que experimente algo além de autocomiseração por ter sido desmascarado. O sofrimento do traído, para o traidor, é mero detalhe e não rivaliza com o medo que ele sente da punição pelo erro cometido. O único tipo de consideração pela vítima que eventualmente pode emergir em tal situação é o abominável sentimento de pena – que por sua vez não consola, mas humilha e revolta.
