Jorge Luis Borges – Remorso por qualquer morte

Livre da memória e da esperança,
ilimitado, abstrato, quase futuro,
o morto não é um morto: é a morte.
Como o Deus dos místicos,
de Quem todos os predicados devem ser negados,
o morto ubiquamente alheio
nada mais é do que a perdição e ausência do mundo.
Tudo dele roubamos,
não lhe deixamos nem uma cor nem uma sílaba:
aqui está o pátio que já não compartilham seus olhos,
ali a calçada de onde espreitavam suas esperanças.
Mesmo o que pensamos poderia estar pensando ele também;
dividimos como ladrões
o fluir das noites e dos dias.

Trad.: Nelson Santander

Conheça outros livros de Jorge Luis Borges clicando nesse link

Remordimiento por cualquier muerte

Libre de la memoria y de la esperanza,
Ilimitado, abstracto, casi futuro,
El muerto no es un muerto: es la muerte.
Como el Dios de los místicos,
De quien deben negarse todos los predicados,
El muerto ubicuamente ajeno
No es sino la perdición y ausencia del mundo.
Todo se lo robamos,
No le dejamos ni un color ni una sílaba:
Aquí está el patio que ya no comparten sus ojos,
Allí la acera donde acechó sus esperanzas.
Hasta lo que pensamos podría estarlo pensando él también;
Nos hemos repartido como ladrones
El caudal de las noches y de los días.

Um comentário sobre “Jorge Luis Borges – Remorso por qualquer morte

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s