Louise Glück – Matinas (6)

O que é o meu coração para você
que precisa parti-lo repetidas vezes
como um jardineiro testando
sua nova espécie? Pratique
em algo diferente: como posso viver
em colônias, como você prefere, se impõe
uma quarentena de aflição, apartando-me
de membros saudáveis de
minha própria tribo? Você não faz isso
no jardim, não segrega
a rosa doente; permite que ela balance suas sociáveis
folhas infestadas nos
rostos de outras rosas, e os pequenos pulgões
saltam de planta em planta, provando uma vez mais
que eu sou a mais ínfima de suas criaturas, abaixo
do próspero pulgão e da rosa rastejante — Pai,
como agente da minha solidão, alivie
ao menos minha culpa; remova
o estigma do isolamento, a menos
que seja o seu plano fazer-me sentir
eterna novamente, como me
senti em toda a minha equivocada infância,
ou sob o leve peso
do coração de minha mãe, ou então,
em sonho, o primeiro
ser que nunca morrerá.

Trad.: Nelson Santander

Matins

What is my heart to you
that you must break it over and over
like a plantsman testing
his new species? Practice
on something else: how can I live
in colonies, as you prefer, if you impose
a quarantine of affliction, dividing me
from healthy members of
my own tribe: you do not do this
in the garden, segregate
the sick rose; you let it wave its sociable
infested leaves in
the faces of other roses, and the tiny aphids
leap from plant to plant, proving yet again
I am the lowest of your creatures, following
the thriving aphid and the trailing rose — Father,
as agent of my solitude, alleviate
at least my guilt; lift
the stigma of isolation, unless
it is your plan to make me
sound forever again, as I was
sound and whole in my mistaken childhood,
or if not then, under the light weight
of my mother’s heart, or if not then,
in dream, first
being that would never die.