Retirei tapetes e cortinas,
todas as mesas onde há tempos
não como nem escrevo.
Removi os quadros e pintei as paredes
para apagar os vestígios dos anos.
Guardo alguns poucos livros. Sei bem quais.
Destruí
cartas de amor que não me amavam mais.
Silenciosos agora, os amores
são icebergs errantes do pensar.
A casa, sem recantos para o medo,
deixa meus olhos mais desnudos.
Nada, nem a esperança,
pode perturbar a derradeira morte.
Não há outra casa para os que amo.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO, com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 14/08/2018
Joan Margarit – Despedirse
He retirado alfombras y cortinas,
todas las mesas en las que hace tiempo
que ni como ni escribo.
He sacado los cuadros y he pintado los muros
para borrar señales de los años.
Guardo unos pocos libros. Sé bien cuáles.
He destruido
cartas de amor que no me amaban ya.
Silenciosos, ahora, los amores
son icebergs errantes del pensar.
La casa, sin rincones para el miedo,
deja mis ojos más desnudos.
Nada, ni la esperanza,
podrá perturbar ya la última muerte.
No hay otra casa para los que amo.