Brenda Shaughnessy – Eu tenho uma máquina do tempo

Mas, infelizmente, ela só pode viajar para o futuro
a uma velocidade de um segundo por segundo,

o que parece lento para os físicos, para os comitês
de financiamento e até para mim.

Mas eu consigo chegar lá – dia após dia – ao próximo
momento e ao seguinte.

O problema é que não consigo desligá-la. Continuo avançando —
bem, não exatamente avançando — e se eu tentar

sair desta máquina do tempo, abrir a trava,
cairei no espaço, ficarei inconsciente,

e depois serei desidratada! E com certeza tenho medo disso.
Por isso eu fico lá dentro.

Mas existe uma janela. Ela mostra o passado.
É como uma televisão ou um aquário de peixes,

mas nunca passa ao vivo, e sempre acaba. Os peixes nadam
em círculos invertidos.

Às vezes é como um espelho retrovisor, outra chance
de ver o que estou deixando para trás,

e às vezes é como um apagão, todo aquele tempo
desperdiçado dormindo.

Eu mesma aos oito anos de idade, toda a cabeça ardendo de vergonha
por ter perdido um livro da biblioteca.

Eu me esgueirando em um canto iluminado, charmosamente
esperando ser encontrada.

Eu segurando uma rosa, mas querendo larga-la
para poder fumar.

Eu explodindo com minha mãe que explode comigo
porque a explosão

de alguma estrela negra lá atrás atingiu em cheio
a mãe da mãe da minha mãe.

Eu me afasto da janela, antecipando um golpe.
Pensei que eu já seria

uma velha agora, viajando tão leve no tempo.
Mas não fui muito longe.

É estranho não poder acelerar o ritmo como eu gostaria;
o passado é tão terrivelmente rápido.

Trad.: Nelson Santander

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I Have a Time Machine

But unfortunately it can only travel into the future
at a rate of one second per second,

which seems slow to the physicists and to the grant
committees and even to me.

But I manage to get there, time after time, to the next
moment and to the next.

Thing is, I can’t turn it off. I keep zipping ahead—
well, not zipping—And if I try

to get out of this time machine, open the latch,
I’ll fall into space, unconscious,

then desiccated! And I’m pretty sure I’m afraid of that.
So I stay inside.

There’s a window, though. It shows the past.
It’s like a television or fish tank

but it’s never live, it’s always over. The fish swim
in backward circles.

Sometimes it’s like a rearview mirror, another chance
to see what I’m leaving behind,

and sometimes like blackout, all that time
wasted sleeping.

Myself age eight, whole head burnt with embarrassment
at having lost a library book.

Myself lurking in a candled corner expecting
to be found charming.

Me holding a rose though I want to put it down
so I can smoke.

Me exploding at my mother who explodes at me
because the explosion

of some dark star all the way back struck hard
at mother’s mother’s mother.

I turn away from the window, anticipating a blow.
I thought I’d find myself

an old woman by now, travelling so light in time.
But I haven’t gotten far at all.

Strange not to be able to pick up the pace as I’d like;
the past is so horribly fast.

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