Joan Margarit – Último trem

Último trem
Crematório de Collserola

Se visses a chuva que enverniza
o verde escuro e denso do jardim.
Teu vagão solitário está chegando
à sala espaçosa, sem adornos,
nem mobiliário, nem nenhuma luminária,
da Estación de Francia da morte.
Só se ouve o murmúrio do motor
que arrasta o peso
da infância e da juventude
– de teu anônimo tempo já perdido
que ninguém nunca mais reclamará -,
em direção ao forno e sua boca incandescente
que se reflete na vidraça gotejada de chuva.
As lágrimas adornam o lugar,
feio como um subúrbio, e, ainda assim,
recupero-te em um longínquo inverno,
numa manhã azul sob os plátanos:
imóvel, com as mãos atrás das costas,
olhas a multidão entre os quiosques
como um sobrevivente que se esforça
por identificar em seu redor
os restos do naufrágio.

Trad.: Nelson Santander

Último tren
Crematorio de Collserola

Si tú vieras la lluvia que barniza
el verde oscuro y denso del jardín.
Tu vagón solitario está llegando
a la sala espaciosa, sin adornos,
ni mobiliario, ni ninguna lámpara
de la Estación de Francia de la muerte.
Sólo se oye el murmullo del motor
que va arrastrando el peso
de infancia y juventud
—de tu anónimo tiempo ya perdido
que no reclamará nunca más nadie—,
hacia el horno y su boca incandescente
que se refleja en el cristal de lluvia.
Las lágrimas adornan el lugar,
feo como un suburbio, y aún así,
te recupero en un lejano invierno,
una mañana azul bajo los plátanos:
inmóvil, con las manos a la espalda,
miras la multitud entre los quioscos
como un superviviente que se esfuerza
por identificar en torno suyo
los restos del naufragio.

Deixe um comentário