O importante é rezar, não importa a quem,
que as perguntas sejam as orações
do pensamento, plantem sua semente
em nossa solidão, e que não haja paz
que, à força de insistir, seja capaz
de não existir, não tenha outra opção
senão recorrer à voz de quem a chama.
Que deus não exista, acaso
é razão para nele não crer?
Deus é o nome da sede, a sina
e a querência desta solidão
em que ambos consistimos.
De ninguém falo com deus, de deus com ninguém.
Escrevo-o com cuidado e em minúscula.
Eu sou ateu e laico todos os dias.
Mas há noites amnióticas
que minha alma reza de joelhos
não importa a quem,
pergunta, espera, pede.
E minha alma ajoelhada é uma vela
sob cuja luz, em cuja noite, escrevo.
Trad.: Nelson Santander
Plegaria del descreído
Lo importante es rezar, no importa a quién,
que las preguntas sean las plegarias
del pensamiento, planten su semilla
en nuestra soledad, y no haya paz
que, a fuerza de insistir, sea capaz
de no existir, no tenga más remedio
que acudir a la voz de quien la llama.
Que dios no exista, ¿acaso
es razón para no creer en él?
Dios es el nombre de la sed, el sino
y la querencia de esta soledad
en que ambos consistimos.
De nadie hablo con dios, de dios con nadie.
Lo escribo con cuidado y con minúscula.
Yo soy ateo y laico cada día.
Pero hay noches amnióticas
en que mi alma reza de rodillas
no importa a quién,
pregunta, espera, pide.
Y mi alma arrodillada es una vela
a cuya luz, en cuya noche, escribo.